quarta-feira, 19 de novembro de 2025

rimas negras

Rimas negras


A vida toda entoada,

 sofrendo repreensão,

 estando certa ou errada 

 sentindo-me na contramão.


Sempre fui considerada

abusada, perdida em vão,

negra, renegada, negrada

sem freio, ou sem direção.


Orgulho-me da empreitada

empretada na branquidão.

Sou preta, forte e ousada

grito-me sem rouquidão.


Ancestralidade apurada,

cultura sem rendição, 

pele da noite enluarada

sou americafricanização.


Subo ao púlpito poetizada

contra a discriminação.

 Insolência ensolarada,

em palavras e ação.


Rasgo atemporalizada

correntes quebradas ao chão

refaço a caminhada

livre das marcas da opressão.


Sou as mulheres negras exaltadas,

guerreiras por condição,

aqui nesta noite, versadas

opostas a qualquer submissão

domingo, 1 de junho de 2025

Instante

Leio Clarice 
Congelo no "já"
Mergulho no dentro

Olho o céu amanhecido
em azul de outono
meu corpo 
pede sol

As palavras vão 
se desfazendo no calor
debaixo delas
encontro sentidos

Refrescante poética
brota uma brisa
Sensorial entre os dedos
Escrevo


sábado, 8 de fevereiro de 2025

Vê de vigilância

Olhos janelares 
buscam o espelho no outro
Insatisfeitos  
com que vêem
na sua própria casa.

quarta-feira, 23 de outubro de 2024

poesia: prosa e poema


     A prosa é a poesia cravada pelas unhas. Faz formas e fôrmas, lapidando o organismo espontâneo dos versos livres do poema, entre parágrafos e complexidades sintáticas, que o sentido poético sempre resmungou. A vertical poesia deixa espaço branco no papel, para que sejam asas, sem compromissos regenciais.
      O poema é a prosa descalça. É o domingo na casa da avó.
      A prosa é vestida. Está na agenda de quarta-feira.
    Mas todas têm P de poesia, de pluralidade, de praia, de primavera...de poeira que se desfaz contra o vento.
      As palavras seguem, desenhando a vastidão poética no papel, sem fronteiras, com a vontade cheia de sentidos e sem direção, bordadas pela liberdade de não saber aonde ir.